O Poder da Informação em Terras de Tupiniquins

22/04/2018 19:07

Alexander Willian Azevedo*

 

Em tempos sombrios que o Brasil vivência atualmente, em nuances aos caos generalizado que tem dividido o país em duas correntes políticas, se levanta em discussão os poderes que regem a nação brasileira mediando ao espetáculo montado nos palcos midiáticos, tendo como maestro a informação.

O conceito de poder, a luz weberiano que traduz como “[...] a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas” (WEBER, 2008), tem tomado os espaços de discussões, principalmente nas redes sociais, em proposições inimagináveis.

Desde o fim da guerra fria, que colocou ponto final na corrida armamentista, de cariz nuclear, desmembrando o bloco soviético em 1991, e dando protagonismo mundial ao EUA, assente na democracia e no Bill of Rights, o foco no poder militar foi transferida para o poder da informação, em seja, ter em posse uma informação que é do desconhecimento de outro, altera a balança do poder.

Vejamos como a informação continua sendo poder e o conhecimento fica em avalia de quem o interpreta, pois um suspiro do comandante do exército brasileiro, um dia antes do circo especulativo do grande evento jurídico-midiático da suprema corte brasileira, em julgar um ex-presidente da republica, a dialética do medo da intervenção das Forças Armadas tomarem as rédeas, novamente, como capitão do mato, transitou em terras tupiniquins aos passos do despótico Leviatã, de Thomas Hobbes, vencendo no campo simbólico, o estado democrático preconizado por John Locke.

Se o poder tem como fontes básicas, segundo Toffler (1990), o “músculo” (força que influência sobre a opinião), o “dinheiro” (riqueza que circula em forma de barganha para obtenção de mais poder) e a “inteligência” (conhecimento que é a fonte de maior qualidade, onde reside o domínio dos saberes), espero que renasça das cinzas, a fênix  dos movimentos de resistência de oposição, assim como foi no processo de democratização do Brasil, na qual a resistência ocorreu via a argumentação de que o poder contestado era “impróprio, ilegítimo ou inconstitucional”, adormecendo aqueles  que calaram a nação durando décadas, através das armas.

O exercício da cidadania, hoje travada por muitas disputas sociais em busca de legitimar o poder civil, coloca em cena a síndrome brasileira da solução pelo heroísmo, enunciado pelas narrativas de um juiz versus ex-presidente, que se transforma no espetáculo criminalizador e moralista da cruzada seletiva contra a corrupção que tem como sede a cidade de Curitiba, e de lá sai à febre de informações que alimenta tanto a verdade, como os fake news.

Buckland (1991) relata que na Idade Média era considerado importante conseguir distinguir as mulheres sérias das bruxas, como processo de legitimação da verdade institucionalizada, culturalmente, pela Igreja Católica Apostólica Romana, que nos dias atuais, esta dicotomia é tida como verdade e pós-verdade, que somada com avalanche de informações que nos cercam, mergulhamos e surfamos nas ondas da rede em busca da verdade, que por algumas vezes, caímos na pós-verdade de um clique viral.

Desta forma, os polos contraditórios do poder da informação tem desnorteado o país que ainda não passou a limpo sua memória, sua história, e sua verdade sobre o racismo, o sexismo, e a desigualdade social. Se tudo, literalmente tudo, pode ser portador de informação, desde as fumaças simbólicas da escolha de um novo papa, até as obras artísticas que nos informa suas representações, ainda temos muito a fazer e aprender.

Os canhões estão apontados contra o nosso Haiti, onde o poder civil constituído pelo executivo, legislativo e judiciário estão enfraquecidos e fadados ao fracasso, que tanto aqui quanto lá, a população depositou suas cartas na Liberté, Egalité, Fraternité francesa, porém se vê forçado a ser alvo, como em um novo Canudos, negando até o seu próprio contrato social inscrito na Constituição de 1988.

Em suma, finalizo trazendo a luz Sir Karl Popper (2008), na tentativa de iluminar um pouco o caminho das pedras que atravessamos em nosso país, refletindo que “[...] apesar da história não ter fins, podemos impor-lhe nossos fins; e, apesar da história não ter sentido, podemos dar-lhe um sentido”. Parece paradoxal, mas o antídoto do poder da informação também esta em nossas mãos, como agente crítico do nosso destino, na qual teremos que caminhar em direção do consenso construído a partir do reconhecimento do conflito e não da paz dos cemitérios, pois o futuro esta aqui para ser construído, e não dado.

 

BUCKLAND, M. Information as thing. Journal of the American Society for InformationScience, v. 42, n. 5, p. 351-360, 1991.

POPPER, Karl. A sociedade aberta e seus inimigos. Trad. de Milton Amado. São Paulo: Edusp, 1987.

WEBER, Max. Os três tipos puros de dominação legítima. Trad. de Gabriel Cohen. Rio de Janeiro: VGuedes Multimídia, 2008.

 

* Alexander Willian Azevedo é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB) e professor vinculado ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (DCI/UFPE). E-mail: azevedo.aw@gmail.com

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